Introdução
Nos últimos anos, os sucessivos avanços da robótica e da inteligência artificial (IA) vem transformando acentuadamente o mercado de trabalho humano, criando cenários ainda incertos, mas que comprovadamente serão influenciados pela atuação dessas novas tecnologias.
De acordo com uma pesquisa da McKinsey, em 2024, 72% (setenta e dois por cento) das empresas globalmente já adotaram essa tecnologia de alguma forma, ocasionando assim, um significativo aumento em relação ao percentual anterior, que era de 55% (cinquenta e cinco por cento) em 2023. (Reportagem na cnnbrasil.com.br)
Esse mosaico de circunstâncias futuras, torna-se ainda mais incerto, se trouxermos a combinação dessas duas vertentes tecnológicas com a emergente “computação quântica”, ainda, por hora, de aplicação limitada por sua insipiência.
Não resta ilusão quanto a isso, ao que considerando a recente interatividade humana com tais tecnologias, aqui especificamente com a robótica e com a Inteligência artificial, depreende-se que o futuro nos reserva uma significativa otimização dos processos humanos de organização e produção, já se podendo fazer sentir os efeitos de tais mudanças, mormente porque já vivemos em um mundo, em parte, digital.
Sobejamente, num primeiro momento essa interação entre humanos e máquinas pode redefinir o conceito de produtividade e inovação, trazendo benefícios para empresas, trabalhadores e a sociedade como um todo. Momento que estamos vivenciando na prática com o ensaio ampliado dessas tecnologias.
No entanto, a essa tendência de automação independente e acelerada, exigirá estudos e preparação da própria sociedade, podendo ensejar a revisão estrutural de todo tecido social e econômico que, apesar de permeado pelo meio digital, ainda labora, tanto sob o desempenho humano, quanto sob os comandos de nossa espécie.
E não se espere que o mercado, com suas leis macro e microeconômicas (oferta e procura) que, por muitas vezes tem peso igual das leis da física newtoniana, lastreados na “possibilidade e necessidade humana”, propositalmente venha, porventura, declinar da competência de se ajustar a essas mudanças.
De forma alguma! Ele se ajustará plenamente, como já o vem fazendo.
O cerne da questão aqui se traduz nos reflexos desse ajuste na espécie humana que, como seres biológicos (naturais), não prescindem daquelas habituais e históricas necessidades, firmemente impostas pela mãe natureza e o do próprio convívio social, leia-se aqui as necessidades fisiológicas e sociais, contornadas através dessa mesma organização social, tendo o trabalho como um de suas pedras fundamentais.
Noutras palavras: É o trabalho como valor de existência e convívio, e mais, é o trabalhar para comer; o trabalhar para morar; o trabalhar para estudar e outras tantas obrigações sobre esse ser da vertente adâmica. Mas, até quando será assim?
Diz-se isto porque, a simples transformação dessas funções existentes, noutras em que, deixaremos o protagonismo para a figura de meros coadjuvantes, por conta dessa automação independente, derivará um cenário em que poderá ocorrer a insuficiência de postos de trabalho, quadro que já se apresenta nesse mundo tão conturbado.
A Robótica e a IA na produção
Nesse contexto, deixando a ficção científica de lado, até porque ao longo do tempo vem perdendo essa característica de ficção. A presença dos robôs e sistemas de IA, já há longos anos, é uma realidade em diversos setores da produção.
Na indústria, mormente automotiva, os robôs automatizam linhas de produção com eficiência e precisão. No setor da saúde, tecnologias como os robôs cirúrgicos auxiliam médicos em procedimentos complexos, garantindo maior segurança. Na logística, algoritmos inteligentes otimizam rotas e o gerenciamento de estoques, reduzindo custos e melhorando prazos de entrega.
Além das aplicações industriais, a IA também está revolucionando áreas tradicionalmente ocupadas por humanos, como a análise de dados, o processamento de linguagem natural e até mesmo a tomada de decisões estratégicas.
O nível da Computação Quântica
Somando-se a tudo isso, advém a computação quântica como um campo emergente que utiliza conceitos de superposição de informação para realizar cálculos ainda mais complexos e de forma estratosfericamente mais eficiente e rápida do que a computação clássica ou tradicional.
Note-se que diferentemente dos bits tradicionais, representados pelos numerais 0 ou 1, aqui sinônimos de corrente elétrica e a ausência dela, os bits quânticos, ou Qubits, são computados em múltiplos estados simultaneamente, graças ao conceito da superposição.
Como dito alhures, embora ainda afastada do grande público, mais por conta de suas aplicações ainda incipientes, do que propriamente dito do seu atual estágio de desenvolvimento, a computação quântica promete revolucionar diversas indústrias.
No setor financeiro, tem o potencial de otimizar portfólios de investimentos e melhorar a análise de riscos, na indústria farmacêutica tem o relevante potencial de acelerar o desenvolvimento de medicamentos.
A fusão dessa computação quântica com a tecnologia da inteligência artificial e a robótica em si, tem o potencial de elevar a automação independente a um nível inacreditável ao que, dotada de algoritmos cada vez mais complexos e processamentos massivos em tempo reduzido, a automação pode atingir um grau de sofisticação que alguns especialistas acreditam ser capaz de gerar uma suposta “consciência artificial”.
Essa seria a comprovação de fato de uma convergência de tecnologias, alcançando um estado de singularidade semelhante ou superior à consciência humana. E ressalte-se, isso não é mais considerado ficção científica.
Esse cenário, embora ainda completamente teórico, levanta questões éticas e técnicas sobre o controle, a responsabilidade e os limites da inteligência artificial avançada, o que acentua ainda mais a necessidade da discussão sobre o tema.
Impacto nos Empregos dos Humanos e possibilidades colaborativas
Num primeiro momento, podemos considerar a possibilidade, já existente, de que profissionais humanos e máquinas atuarão juntos, aproveitando o que há de melhor em ambos: a capacidade analítica das máquinas e a intuição e criatividade humanas.
Entretanto, a questão não se limita à simples complementação das habilidades humanas subjetivas com a exatidão dos algoritmos. É que, com essa automação cada vez mais sofisticada e independente, a substituição de postos de trabalho, em larga escala, se torna cada vez mais uma possibilidade concreta, ante a conceitos muito específicos de eficiência e lucratividade dos meios de produção.
E nisso, a automação já está transformando diversas profissões, especialmente aquelas baseadas em tarefas repetitivas, tais como: Operadores de máquinas, assistentes administrativos e outros profissionais que desempenham funções padronizadas estão sendo diretamente impactados.
Recentemente, uma determinada empresa de tecnologia divulgou que já conta com 800 mil “funcionários robôs” em seus centros de distribuição buscando alcançar a marca de 1 milhão em até dois anos.
A velocidade com que essas mudanças atualmente ocorrem, provavelmente não serão acompanhadas pela criação de novas oportunidades de trabalho, resultando em potencial insuficiência de postos de trabalho para o ser humano.
Embora novas oportunidades surjam em áreas como desenvolvimento de IA, manutenção de robôs e pesquisa em computação quântica, essas funções exigem um nível elevado de especialização que nem todos os trabalhadores conseguem quiçá alcançar.
E até aqui, no mundo como um todo, mormente nos países considerados como em desenvolvimento, não se tem notícia de políticas educacionais abrangentes que visem preparar o cidadão de imediato para essa mudança de paradigma.
A emergência de profissões inovadoras, como especialistas em ética de IA, designers de interação humano-máquina e treinadores de sistemas de inteligência artificial, apesar de ser um dos nortes, a fim de equilibrar a balança destes postos de trabalho, não aparenta, desde já, a capacidade de opor um contrapeso em face dessas mudanças.
É certo que historicamente a humanidade passou inúmeras mudanças e se adaptou, no que por certo exigirá uma virada nas políticas econômicas e sociais, a fim de preservar o tecido social no qual foi erigida a sociedade. Não se trata aqui de uma visão meramente malthusiana, mas as pressões sociais impõem compreensão de suas causas e, por vezes, a necessária adoção de mudanças.
E nisso, o grande desafio será integrar essa nova tecnologia de forma que não apenas substitua, mas amplie a atuação desses profissionais, permitindo que humanos e máquinas trabalhem juntos para alcançar soluções ainda mais sofisticadas, sem literalmente, o sacrifício da espécie criadora. Até porque já existem exemplos disso acontecendo no mercado, são os chamados “cobots” (robôs colaborativos) projetados para trabalhar lado a lado com humanos, potencializando suas capacidades, sem substituí-los.
Essa nova dinâmica, no entanto, como já dito, exige uma profunda revisão do modelo econômico atual, com a possibilidade de uma reorganização completa dos conceitos de trabalho e remuneração.
O Papel das Políticas Públicas (Educação, Empreendedorismo, Regulamentação e Fundo Universal)
O novel da inteligência artificial está na forma como ela processa informações e aprende padrões a partir de grandes quantidades de dados que, poderá ser catapultado pela computação quântica e, se associado a robótica, poderá criar uma nova era para a humanidade, com inúmeras possibilidades.
Por esse motivo, investir na educação específica para essa nova realidade é essencial para preparar a população para um futuro cada vez mais impulsionado pela inteligência artificial e outras tecnologias emergentes.
A educação deve ir além do ensino tradicional, incorporando disciplinas como programação, análise de dados e pensamento crítico, além de promover o desenvolvimento de competências socioemocionais, como criatividade e adaptabilidade.
Além disso, tais políticas públicas precisam levar em consideração as “dinâmicas populacionais” ao planejar estratégias para a absorção da mão de obra impactada pela automação, quer seja o impacto demográfico crescente ou não.
Outro aspecto crucial que precisa ser discutido é a regulamentação do uso da inteligência artificial. À medida que essas tecnologias avançam e se integram cada vez mais ao cotidiano, torna-se imprescindível estabelecer diretrizes legais que assegurem o uso ético e seguro da IA.
É fundamental que os marcos regulatórios contemplem a proteção de dados pessoais, a transparência nos algoritmos, a mitigação de condutas tipificadas como crime, bem como a definição de responsabilidades em casos das decisões automatizadas.
Além disso, uma regulação equilibrada deve incentivar a inovação tecnológica sem sufocar o desenvolvimento dessas ferramentas, promovendo um ambiente que harmonize segurança e progresso.”
Por conseguinte, há ainda a possibilidade da criação de um fundo de renda básica, custeada justamente pelos ganhos com essa automação independente, que provavelmente impulsionará o PIB mundial em trilhões.
Medida análoga já se deu em determinados países que designam os ganhos com extração de recursos naturais para determinadas áreas sociais. Literalmente, não somente a iniciativa privada, mas o Estado terá que se reinventar, até porque, provavelmente também fará uso dessas tecnologias, acelerando a resolução de suas demandas.
Muito tem-se se discutido a respeito dessa resposta como uma solução para mitigar os efeitos de uma possível diminuição drástica na oferta de postos de trabalho.
Por fim, a criação de incentivos fiscais e programas de fomento ao empreendedorismo pode estimular o surgimento de startups voltadas à aplicação dessas novas tecnologias, contribuindo para a geração de empregos e para a economia digital.
Conclusão
Tais mudanças são inevitáveis e, aquele que se opor, estará apenas desperdiçando recursos e energia contra algo que, cedo ou tarde, virá.
É considerada como certa, a afetação do mercado de trabalho em nível mundial, o que exigirá uma revisão fundamental das estruturas econômicas e sociais, tanto privadas quanto estatais. Pode se dizer que obrigatoriamente o mundo passará por uma nova formatação, ainda difícil de se prever, quando e como se dará.
Contudo, não há somente um horizonte cinza à frente, pois a capacidade humana remonta aos antepassados que, cruzando a África se espalharam pelo mundo, conseguindo se adaptar e sobreviver. O mesmo se dará com seus descendentes contemporâneos.
E mais, provavelmente a robótica, a inteligência artificial e a computação quântica como inovações, impulsionarão a produtividade criando novas oportunidades em larga escala, vide a quantidade de pessoas hoje que trabalham e vivem das redes sociais, algo impensável a 10 anos atrás.
E isso porque, os avanços tecnológicos jamais devem ser rechaçados, mas utilizados de forma estratégica e adequada para promover maior conforto e satisfação das necessidades humanas, desaguando assim num futuro que, seja mais próximo daquilo que é considerado utópico, do que distópico.
Entretanto, como já dito, estaremos obrigados a reformatar nossas relações sociais, com novas políticas públicas e privadas, firmadas tanto em educação, quanto na própria requalificação profissional por parte das empresas com seus trabalhadores, e a possibilidade de implementação da alocação de receitas, ao que majoradas em função da aplicação dessas tecnologias seriam convoladas em renda básica, garantindo assim num primeiro momento a manutenção da inclusão social e econômica, em um cenário cada vez mais automatizado e independente da atuação humana.
Tudo, sem olvidar que o Norte a ser alcançado será manter o fator humano no centro da criatividade produtiva, terreno ainda infértil para a máquina.
Não se trata meramente do fim de uma era, mas do começo de outra, possivelmente mais próspera. Mas tudo, novamente, vai depender exclusivamente da vontade humana.
Texto realizado em colaboração com a Inteligência Artificial.
LUIZ FELIPE BUAIZ ANDRADE – OAB/DF 24.775
EDUARDO MOREIRA CORRÊA – ACADÊMICO EM DIREITO